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Admitimos que éramos impotentes

  • Foto do escritor: José Lurker
    José Lurker
  • 13 de set. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 20 de mai. de 2024

O ator Ângelo Antônio está fazendo um papel emblemático na novela da Globo chamada Terra e Paixão. Ele é Andrade, um homem que bebe muito e tem uma relação atormentada com a esposa. A medida em que o tempo vai passando, o problema de Andrade vai se agravando e ele perde completamente o controle sobre a bebida. Brigas, agressões, uma relação ambivalente com o filho, a quem ama, mas a quem também agride, em particular quando submete a esposa à violência física, sob o olhar da criança - que não consegue entender aquilo. Andrade por muito tempo nega ter problemas com a bebida. São os outros, é o mundo que está errado e é injusto com ele. E ele vai afundando progressivamente no álcool, é preso várias vezes, vai, literalmente, descendo a ladeira.


Uma ocasião

Andrade está caído na rua, totalmente embriagado, quando ele é ajudado por um famoso advogado da cidade, que o convida para ir a uma reunião. O advogado, no caminho para a reunião, conta que há muitos anos atrás havia passado por uma situação semelhante, quando, em decorrência de seu hábito de beber, havia perdido quase tudo. E que a reunião para a qual estava levando Andrade o havia ajudado muito - a reunião fez com que ele enfrentasse o problema e o superasse, um dia de cada vez. Após a reunião, Andrade agradece ao advogado, mas acredita que aquele grupo não é para ele. Isso até o próximo porre. Ninguém mais acredita nele na cidade. Ele vai pedir emprego, mas ninguém o admite - ele é humilhado, mas por trás da humilhação começa a perceber o valor da Humildade. Num momento dramático, ele vai para o boteco que costuma frequentar e pede um suco de laranja. E vê uma pessoa tomando uma pinga, ao lado de uma garrafa de cachaça. Ele toma o suco e vai para a escola do filho, onde há uma reunião de pais e ele chega lá sóbrio. Parece ser o começo de uma nova história para Andrade. Mais tarde, ele aparece compartilhando o seu dia em uma reunião de um grupo de mútua ajuda, ladeado pelo advogado, que aparenta ser o seu padrinho.


Porém,

A novela peca em outra situação. Petra, representada pela atriz Débora Ozório, é dependente de medicamentos sedativos. A abordagem da questão em determinado momento foi sofrível. Usando e abusando do adjetivo "viciada", ela foi internada involuntariamente em uma clínica, onde a atitude do médico foi questionável, nada empática, usando um jargão incompatível para quem trabalha com dependência química ("remédios muito fortes", etc). Petra acaba sofrendo contenção física e química e a tudo isso se dá um ar de normalidade , como se fosse algo comum e esperado neste tipo de ambiente.


De qualquer forma

é interessante que um canal da televisão aberta, da dimensão da Rede Globo, debruce-se sobre estas questões. As adicções são um problema de saúde pública e cada vez se faz mais mandatório que a sociedade se dê conta da grandeza do problema. Além disso, a mudança do olhar e da perspectiva com que se vê a dependência química é essencial. É necessário se compreender que se trata de uma doença psiquiátrica, que afeta miseravelmente o doente e sua família, mas que é - potencialmente - tratável.



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