Era uma vez um sonho
- José Lurker
- 23 de out. de 2023
- 2 min de leitura
Uma narrativa potente sobre o drama real de famílias que convivem com a dependência química. “Era uma vez um sonho”, de Ron Howard (Netflix), baseado na autobiografia de J. D. Vance, narra o esforço de um jovem para superar os obstáculos de sua origem: família de migrantes pobres, sem protagonismo masculino e mãe dependente de múltiplas drogas. Ex-fuzileiro naval, JD chega a viver seu sonho: ser um advogado importante. Porém uma nova crise da mãe o leva de volta a cidade natal, onde se reencontra com seus velhos fantasmas. Nesse momento ele oscila entre a neutralidade e o afeto para tentar tomar as melhores decisões em como auxiliar a mãe em suas frequentes recaídas, sem se desviar de sua própria vida, um dos desafios da codependência.
Amy Adams está irreconhecível, como a torturada enfermeira e mãe solteira, que com um transtorno mental de base, começa a se drogar no trabalho, e se perde no caminho de volta a lucidez. Uma situação frequente nos trabalhadores da saúde, pelo acesso permitido às substâncias lícitas.
Glenn Close, magistral
Mais irreconhecível ainda está Glenn Close como a avó, suporte emocional de toda a família e que faz a diferença no futuro de JD. É também uma história sobre a força dos avós, que quando necessária, se faz presente com muita potência, com todas as limitações da idade e das diferenças transgeracionais.
JD traz o sofrimento e a constatação de que a lucidez, a sobriedade e a visão ampliada sobre a vida e o contexto ao redor, nem sempre são fáceis de suportar. Mas, sem escolhas amorosas também não há nenhum caminho. Penso ser uma história sobretudo de permanência do amor em família, como esperança de um melhor convívio com a dependência química, doença incurável, mas passível de cuidado e dias felizes.
Direção de Ron Howard, disponível na Netflix.
Carla C. é medica e cinéfila.

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